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Contos de terror: O Pacto do Corvo.


"Mas o corvo, astuto, apenas riu do alto do campanário." - Ketty Williams
"Mas o corvo, astuto, apenas riu do alto do campanário." - Ketty Williams

Na aldeia de Skogheim, onde o vento assobiava segredos entre as árvores retorcidas, vivia um jovem chamado Sven. Desde pequeno, ele ouvia as histórias sobre a Floresta Negra, onde aqueles que entravam sem permissão jamais voltavam. Os mais velhos murmuravam sobre o Corvo de Ferro, uma criatura que observava dos galhos mais altos, esperando por uma alma tola o bastante para barganhar com ele.


O inverno daquele ano veio cruel e faminto. Sven, órfão e sozinho, viu-se desesperado. Não havia pão, não havia lenha, e as portas dos vizinhos se fechavam ao seu pedido de ajuda. O desespero o levou à beira da floresta, onde, com os lábios rachados pelo frio, ele murmurou o que jamais deveria ser dito:


— Eu daria qualquer coisa por uma chance de sobreviver.


O vento cessou. O mundo ficou quieto, como se prendesse a respiração. Então, um som metálico preencheu o ar, como asas de ferro se batendo contra o céu. Um corvo desceu dos galhos retorcidos e pousou diante de Sven. Seus olhos eram poços negros sem fundo, e sua voz era um sussurro que escorria como ferrugem.


— Qualquer coisa? — perguntou o Corvo de Ferro, inclinando a cabeça.


Sven hesitou. O olhar da criatura era hipnótico e faminto. Mas a fome em seu próprio ventre era ainda pior.


— Sim — sussurrou.


O corvo abriu as asas, e sob sua sombra, uma sacola de moedas douradas apareceu aos pés do jovem.


— Comida e calor por um ano — disse a criatura. — Mas no solstício de inverno, eu voltarei para reclamar o que é meu.


Sven agarrou a sacola sem pensar duas vezes e correu de volta à aldeia.


Durante um ano, ele viveu no conforto que nunca conhecera. Comprou pão quente e vinho doce, dormiu sob mantas espessas e sorriu como nunca antes. Mas à medida que os dias encurtavam e o inverno retornava, um medo gelado começou a apertar seu peito.


Na noite do solstício, o vento trouxe consigo um eco de asas metálicas. Sven fugiu para a igreja, onde o padre lhe disse:


— Criaturas da noite não podem cruzar portas sagradas. Fique aqui até o amanhecer.


Mas o corvo, astuto, apenas riu do alto do campanário.


— Um homem pode fugir do frio, Sven, mas jamais de sua palavra.


Sven permaneceu escondido. O amanhecer chegou, e ele pensou ter enganado a criatura. Mas quando olhou para suas mãos, viu que seus dedos estavam endurecendo, tornando-se escamas escuras como ferro. Seu coração pulsou em desespero, mas já não era carne, e sim metal frio. Ele tentou gritar, mas sua voz saiu como um grasnido rouco.


Quando a aldeia despertou, um novo corvo negro empoleirava-se no alto da igreja, seus olhos brilhando com inteligência e pesar. O antigo Corvo de Ferro já não estava em lugar algum.


E o novo esperava, paciente, por outra alma desesperada o bastante para barganhar.

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