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A Fábula dos Sete Pecados Capitais.

Atualizado: 15 de jun.


"Consumidos pelos próprios pecados, caminhavam como sombras de si mesmos." - Ketty Williams
"Consumidos pelos próprios pecados, caminhavam como sombras de si mesmos." - Ketty Williams

Em um bosque denso e esquecido pelo tempo, onde as árvores cresciam altas e retorcidas, algo sombrio e inquietante começou a tomar forma. Sete criaturas, escuras e misteriosas, chegaram sem aviso, trazendo consigo as sombras das almas humanas: os sete pecados capitais. Suas presenças foram como uma maldição lançada sobre a floresta, corrompendo a paz e distorcendo a harmonia que antes existia.


Primeiro chegou A Ira, uma besta de olhos incandescentes e garras afiadas como lâminas. Seu rugido cortava o ar, espalhando uma onda de violência e ódio entre os animais. O leão, antigo rei da floresta, perdeu-se em sua fúria e começou a governar com punho de ferro, atacando qualquer um que se opusesse a ele. O vento que antes soprava suave, agora trazia consigo o eco de brigas, e o medo se espalhava como uma praga.


Logo em seguida veio A Avareza, uma raposa de pelagem dourada, mas com os olhos frios e vazios, como se sua alma fosse feita de puro aço. Ela ofereceu aos animais promessas de riquezas, mas cobrou um preço alto por cada desejo realizado. Em sua busca insaciável por mais, acumulou ouro e tesouros que não poderiam ser desfrutados, e logo todos os habitantes da floresta ficaram obcecados por aquilo que não podiam ter. A natureza, antes abundante, começou a definhar, como se a própria terra tivesse perdido sua capacidade de nutrir.


A Luxúria chegou em seguida, uma criatura sedutora com uma beleza deslumbrante e um sorriso enigmático. Seus encantos eram como um veneno suave, envolvendo os animais em promessas de prazer efêmero e vazio. Eles começaram a buscar sensações momentâneas, esquecendo-se da verdadeira conexão e dos laços que os uniam. As flores que antes desabrochavam em cores vibrantes murcharam, como se estivessem se tornando parte da escuridão que ela trazia consigo.


A Gula, uma serpente monstruosa com escamas brilhantes como espelhos quebrados, rastejou pela floresta, consumindo tudo o que via. Seu apetite não tinha fim, e as criaturas se viam forçadas a seguir seu exemplo, devorando sem parar, até que os campos de frutas e os rios se esvaziaram. O céu, antes claro, começou a se cobrir com nuvens negras, e o vazio tomou o lugar do que antes era fartura. A floresta agonizava, sem forças para resistir ao apetite insaciável daquela sombra.


A Preguiça, uma coruja de olhos mortos e penas desfeitas, voou até o centro da floresta e se aninhou em sua árvore, sem nunca sair. Sua influência foi como uma névoa pesada, que fez os outros animais se entregarem ao cansaço e à inatividade. Nada mais parecia ter sentido, e a floresta, que antes era viva com o movimento das criaturas, agora estava imersa em um silêncio profundo. O tempo se arrastava, e a vida parecia perder seu vigor, como se tudo estivesse congelado no mais profundo esquecimento.


A Inveja apareceu como um felino pálido, com olhos brilhando em um verde doentio. Ele se esgueirava pelas sombras, semeando discórdia entre os animais, fazendo-os cobiçar o que os outros possuíam. Nenhuma conquista era mais suficiente, e a desconfiança corroía até mesmo as amizades mais antigas. O veneno da inveja fez as árvores se encolherem, e os rios, que antes fluíam livremente, começaram a se torcer como serpentes, desaguando em pântanos turvos.


Por último, desceu A Soberba, uma águia imponente, com suas penas douradas e um olhar que dominava tudo ao seu redor. Ela se empoleirou no topo das árvores, olhando para os outros animais com desprezo. Seus gritos de superioridade reverberavam pela floresta, separando os mais humildes dos mais orgulhosos. O orgulho se espalhou como uma doença, e logo ninguém mais se importava com os outros. Cada ser achava-se mais importante que os demais, e o sentido de comunidade se desfez como neblina ao amanhecer.


A floresta, antes vibrante e cheia de vida, estava agora à beira da destruição. As árvores, antes fortes e altivas, estavam murchando; os rios, que uma vez trouxeram vida, estavam paralisados, e os animais, consumidos pelos próprios pecados, caminhavam como sombras de si mesmos. Nenhum deles parecia se importar mais com o que restava, pois as criaturas haviam se deixado corromper pela escuridão interna que havia sido despertada.


O velho elefante, sábio e silencioso, foi o último a falar. Ele apareceu no centro da floresta, onde os ecos da decadência eram mais fortes. Com voz grave e sombria, ele falou:


"Os sete pecados não são apenas monstros que vêm de fora. Eles nascem no coração de cada um de nós. Quando deixamos que eles nos dominem, não há mais lugar para a luz. E então, vemos o que acontece quando esquecemos quem somos: a destruição de tudo o que é belo e verdadeiro."


Mas suas palavras não foram suficientes. A floresta, já corroída por dentro, continuou sua queda, e os animais, incapazes de resistir, tornaram-se parte da própria escuridão que haviam ajudado a criar.


Moral da história: Os sete pecados não são apenas falhas distantes e incompreensíveis. Eles moram dentro de nós, aguardando o momento certo para se manifestar. Quando os deixamos tomar conta, não há mais salvação. A escuridão que criamos pode consumir até os lugares mais puros, e a única maneira de evitar a ruína é enfrentar nossas próprias sombras antes que elas nos devorem por completo.


(Todos os direitos reservados. Em caso de compartilhamento, é obrigatório citar o nome da autora.)

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